BDS: empresa de segurança G4S anuncia planos de deixar mercado israelense
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G4S vem perdendo contratos de milhões de dólares em dezenas de países depois de campanhas BDS protestando sobre seu papel na prisões, colônias e postos de controle israelenses
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A campanha contra a G4S continuará sendo uma alta prioridade do BDS até que as vendas anunciadas sejam finalizadas
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O movimento BDS continuará apoiando boicotes contra a G4S em relação a encarceramento em massa globalmente
A empresa britânica de segurança privada G4S, a maior do mundo, respondeu a quatro anos de campanha global do movimento de Boicotes, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra seu papel em violações israelenses dos direitos humanos palestinos: anunciou ontem que venderá sua subsidiária israelense nos próximos “12 a 24 meses”.
Ao descrever a decisão, o Finatial Times reportou que a G4S está “se retirando de trabalhos danosos a sua reputação”.
Desde 2010, a G4S tem perdido contratos milionários em muitos países depois de pressão do movimento BDS para que termine com sua cumplicidade com as prisões israelenses, nas quais palestinos são torturados e detidos sem julgamento, assim como com os postos de controle, colônias e centro de treinamento da polícia israelense. Os clientes perdidos incluem empresas, universidades, sindicatos e órgãos da ONU.
A Fundação Bill Gates retirou sua participação de 170 milhões de dólares da empresa em 2014, depois de protestos em seus escritórios em Seattle, Londres e Joanesburgo.
Nas últimas semanas, a UNICEF na Jordânia e uma importante cadeia de restaurantes na Colombia se tornaram as mais recentes entidades a terminarem contratos com a G4S depois de campanhas BDS.
“Assim como o peso do boicote internacional ao apartheid da África do Sul, a pressão do BDS está fazendo algumas das maiores corporações do mundo entenderem que lucrar com o apartheid e colonialismo israelenses é ruim para os negócios”, disse Mahmoud Nawajaa, porta-voz do Comitê Nacional Palestino de BDS, a maior coalizão da sociedade civil palestina, que lidera o movimento BDS.
“Responsáveis por fundos de investimento estão cada vez mais reconhecendo que seu dever fiduciário os obriga a desinvestir de bancos israelenses e empresas implicadas nas sérias violações de direitos humanos de Israel, tais como G4S e HP, pelo alto risco envolvido. Estamos começando a ver um efeito dominó,” acrescentou.
As multinacionais francesas Veolia e Orange, e CRH, maior empresa da Irlanda, saíram por completo do mercado israelense recentemente, como resultado, principalmente, de campanhas BDS.
Em janeiro, a Igreja Metodista dos Estados Unidos colocou cinco bancos israelenses em uma lista negra por sua cumplicidade em violações de direitos humanos, incluindo o financiamento de colônias israelenses ilegais.
A advogada palestina Sahar Francis, diretora da Associação de Direitos Humanos e Apoio a Prisioneiros, Addameer, comentou:
“As últimas notícias sobre a G4S são bem vindas mas não tem impacto imediato para aqueles e aquelas enfrentando severas violações de direitos humanos dentro de prisões israelenses hoje.”
“Em um momento em que Israel está intensificando sua campanha de encarceramento em massa como forma de reprimir a sociedade palestina, G4S deveria terminar imediatamente com seu papel no sistema prisional israelense, assim como seu envolvimento na segurança dos postos de controle e assentamentos ilegais israelenses”, ela acrescentou.
Nawajaa disse:
“Nós somos gratos a todas e todos que se dedicaram, ao redor do mundo, a organizar-se para trabalhar em solidariedade com as palestinas e palestinos que buscam liberdade, justiça e igualdade. de base ao redor do mundo. No entanto, G4S é conhecida por não cumprir suas promessas de acabar com sua participação nos crimes de Israel.”
“Nosso boicote a G4S permanecerá entre as prioridades do movimento BDS até que realmente vejamos a empresa fora do regime de ocupação, colonialismo e apartheid de Israel.”
G4S também tem um longo e documentado registro de participação em abusos de direitos humanos e trabalhistas em outras partes do mundo, especialmente em prisões e centros de detenção de migrantes que opera nos EUA, Reino Unido e África do Sul.
Nawajaa comentou:
“Também celebramos a notícia de que a G4S também venderá seus negócios que operam centros de detenção juvenis nos EUA e Reino Unido. Em ambos os casos ativistas têm protestado contra as práticas abusivas da G4S e em ambos a empresa é parte de sistemas de encarceramento profundamente racistas.”
“Dos EUA a Palestina, da África do Sul ao Reino Unido, G4S está profundamente envolvida em negócios de encarceramento em massa racistas. Nós permanecemos determinados a trabalhar com parceiros ao redor do mundo para responsabilizar G4S por sua participação em abusos de direitos humanos.”
Nawajaa acrescentou:
“Não conseguindo impedir o crescimento impressionante do movimento BDS em busca de liberdade e justiça, Israel está tentando desesperadamente difamar e desligimizar nosso movimento não-violento. Os esforços incluem leis anti-democráticas na Europa e nos EUA almejando silenciar o dissenso e reprimir nossa liberdade de expressão.”
“Acreditamos fortemente que nossa abordagem ética e causa justa prevalecerão, o que este último anúncio da G4S demonstra.”
Em setembro de 2015, a gigantesca empresa francesa Veolia vendeu todos os seus negócios em Israel. Tratou-se de um resultado direto de uma campanha de 7 anos contra o papel da empresa na infraestrutura de projetos em assentamentos ilegais. A campanha acarretou à Veolia uma perda de mais de 20 bilhões de dólares em licitações e contratos.
Recentemente, um importante empresário israelense baseado na França declarou à imprensa israelense que o crescimento da força do movimento BDS significa que a maior parte das empresas europeias agora evitam investir em Israel.
O investimento externo direto em Israel caiu 46% em 2014 em comparação a 2013, de acordo com relatório da ONU. Parte da queda se deve ao impressionante crescimento do BDS, de acordo com um dos autores do relatório.
MARCOS DA CAMPANHA G4S
A G4S anunciou em 2013 que terminaria com suas atividade nas colônias ilegais, postos de controle e prisões israelenses até 2015, mas não efetivou a retirada. Em 2014, a G4S anunciou que “não pretendia renovar” seu contrato com o Serviço Prisional Israelense quando este espirasse em 2017, mas ainda há de implementar esta decisão.
Fevereiro de 2016 - Importante cadeia de restaurantes na Colombia anuncia termino de contrato com G4S depois de campanha BDS.
Março de 2016 - UNICEF na Jordânia termina contrato com a G4S depois de campanha BDS.
Abril de 2015 - Mais de 20 importante empresários sul africanos terminam seus contratos com G4S e causam prejuíso de mais de 500 mil dólares à empresa.
Novembro de 2014 - Cidade de Durham na Carolina do Norte (EUA), termina seu contrato com G4S depois de campanha de ativistas do Jewish Voice for Peace (Voz Judia pela Paz).
Maio de 2014 - A Fundação Bill Gates retirou sua participação de 170 milhões de dólares da empresa em 2014, depois de protestos em seus escritórios em Seaytle, Londres e Joanesburgo. A Igreja Metodista nos EUA desinveste 20 bilhões de dólares em ações da G4S.
Janeiro de 2014 - O diretório estudantil da Universidade de Kent (Inglaterra) vota pelo fim de seu contrato com a G4S e denuncia seu papel no abuso de direitos humanos na Palestina. Outros diretórios estudantis no Reino Unido votam por passos semelhantes. As universidades de King’s College e Southampton deciram não renovar seus contratos com a G4S.
Dezembro de 2012 - Depois de intensa campanha, a Universidade de Oslo (Noruega) anuncia que terminará seu contrato com G4S. As universidades de Bergen (Noruega) e Helsinki (Finlândia) também anunciam passos semelhantes.
April de 2012 – No contexto de uma greve de fome histórica de mais de 2 mil presos políticos palestinos, 12 organizações palestinas de direitos humanos chamam por uma campanha de responsabilização da G4S por seu papel em manter o sistema prisional israelense, no qual a torturas prevalece.
Linha do tempo completa disponível em inglês: http://bdsmovement.net/g4s-timeline